"Entre Nós" | Felicidade Ronronante - Fernando Fiorin

Olá, meus amores leitores!!
Como vão vocês?

Há algumas semanas, postei aqui um conto do Fernando Fiorin inspirado em seu gato Thunder. Esse conto foi o recorde de acessos do "Entre Nós" aqui no nosso blog, então o Fernando fez outro conto pra nós com o mesmo muso inspirador pra que a gente passe o feriadão com conteúdo bom pra ler!!

Quem acham de viajar comigo nesse conto delicinha?
Bora lá! <3

Felicidade Ronronante

         O sol estava quase nascendo. Era hora de Thunder voltar para casa.
         O pequeno felino seguiu pelos caminhos que já conhecia tão bem, seus pelos mesclados entre o cinza e o marrom brilhavam com os primeiros raios luminosos do dia. Sua cara preta parecia aveludada e lhe emprestava um ar de mistério que combinava com seus olhos claros e distantes.
         Suas patas sempre sabiam como o levar de volta, tendo a firmeza e a perícia que lhe eram necessárias para conseguir descer o grande muro que existia entre a casa do seu humano e a casa do lado, que curiosamente não tinha nenhum humano morando.
         Aquilo o intrigava.
         Para que construir tocas tão grandes se os humanos não viviam nelas?
         Ao descer e se aproximar, tentou fazer a menor quantidade de barulho possível para não ter que fugir do Thor, o vira-latas gigante que seu humano arrumara fazia algum tempo e que infernizava a sua vida sempre que podia.
         Felizmente o grandão devia estar dormindo um sono pesado. Certeza que tinha aprontado a noite toda, para variar.
         Thunder olhou para o quintal e viu que estava certo.
         Roupas do seu humano estavam espalhadas para todos os lados. Algumas estavam encardidas, sinal de que Thor, para variar, tinha rolado sobre elas enquanto brincava com a Sif, a vira-latas mais velha e que sempre ficava na dela.
         Bom, Thunder não tinha nada a ver com aquilo, então não corria qualquer risco de reprimendas.
         Ao chegar à janela percebeu que estava aberta.
         Um cheiro forte emanava da parede e uma mancha marcava o chão, onde o seu humano provavelmente deixou cair o produto do mal que o acometia de vez em quando. Felizmente Thor devia ter comido o que estava ali, o que fazia com que Thunder não tivesse que pisar naquela coisa nojenta.
         Com um pulo ágil, o pequeno felino subiu pela janela e viu algo que arrepiou os seus bigodes.
         A sombra mordia a nuca do seu humano sem dó ou piedade.
         Antes que Thunder pudesse lhe atacar, a criatura feita de pesadelos e tristeza se virou e fez um sinal negativo com uma mão cheia de garras garranchosas. Sua voz era um sussurro que seu humano não podia ouvir e soava como o vento triste do final da noite que abandona a terra deixando o calor finalmente a reaviver.
         “Parado aí pequeno. Você me machucou da última vez. Considere isso uma gentileza. Da próxima não serei tão complacente.”
         Os olhos de Thunder estavam enormes e pareciam engolir toda a luz que entrava pela coberta azul que servia de cortina do quarto. Sua cauda balançava como um chicote, demonstrando sua frustração e excitação, ao pensar que iria caçar aquela criatura maligna e a rasgar em pedaços bem pequenos, com grande requinte de crueldade felina.
         Mas antes que pudesse fazer algo, a sombra se soltou do seu humano e saiu flutuando pelas brechas entre a cortina e a janela.
         Se aproximando do seu humano, Thunder percebeu que ele choramingava, suava frio e se agarrava ao seu travesseiro que tinha o seu cheiro forte de humano. O pequeno felino começou a miar de forma compassada, um som curto e confortador, uma forma de dizer que estava ali agora e o protegeria.
         - Thunder?
         - Miau, miau, miau.
         - Oi meu bebê. O papai não está bem. Daqui a pouco te dou comida.
         Quando o seu humano se virou com o peito para cima Thunder subiu sobre ele e lhe permitiu que lhe fizesse carinho. Enquanto a mão do seu humano passava por seu pelo cheio de carrapichos e este os ia tirando um por um o pequeno felino deixava o seu diafragma dizer o que sentia daquele momento.
         - Nossa, que motorzinho forte, rapazinho.
         O ronronar de Thunder enchia o quarto com um som pacificador e carinhoso.
         Seu humano ia aos poucos voltando a ter uma cor mais saudável e um sorriso nos lábios que antes estavam moles, flácidos. Em um gesto que não era acostumado a fazer, o pequeno felino passou a sua língua áspera no nariz do outro, o fazendo sorrir ainda mais, a ponto de mostrar os dentes.
         - Nossa, tudo isso é amor por mim?
         - Miau, miau, miau.
         Quando percebeu que o seu humano estava melhor, Thunder desceu do seu peito e se deitou ao seu lado.
         Passou a maior parte daquela manhã alerta, esperando que a sombra mais uma vez tentasse fazer mal ao seu humano. O pequeno felino chegava a desejar que ela se atrevesse a tanto.
         Pois, da próxima vez, ele não a deixaria escapar.

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