Resenha | As boas mulheres da China - Xinran
Olá meus amores leitores!
Como vocês estão?
Espero que bem, pois o livro de hoje é do tipo que tira o ar e faz o coração parar algumas vezes. Sim, vamos falar de Xinran!!
Pra quem ainda não a conhece, Xinran é uma jornalista chinesa que trabalhou por 8 anos, entre 1989 e 1996, em um programa noturno de rádio chamado As palavras na brisa noturna, na cidade de Nanquim, em que ela conversava com suas ouvintes através de cartas. Embora toda sua pesquisa e todo o material reunido por ela para a confecção desse livro tenha sido feita nessa época, As boas mulheres da China só foi publicado em 2002 e, infelizmente, só foi possível em Londres, onde hoje Xinran é professora universitária, e logo vocês entenderão o porque.
O principal foco do programa era falar do cotidiano das mulheres chinesas e para isso ela recebia cartas que eram lidas e discutidas no ar. Em função de as mulheres não terem espaço onde se comunicar na sociedade chinesa daquela época, o programa virou um grande sucesso e passou a ter uma função social de apoio a essas ouvintes que podiam ali ter espaço para serem compreendidas e compartilharem suas angústias e dificuldades diárias.
Logo no primeiro capítulo, o divisor de águas entre a simples apresentadora de rádio e a jornalista engajada no direito das mulheres da China, foi uma carta recebida de um garoto que vivia em uma aldeia a cinquenta quilômetros de Nanquim e dizia o seguinte:
A partir desse momento, Xinran sai a campo para ajudar essa menina e tem de encarar a realidade feminina a sua volta: esse comportamento era absolutamente normal e aceitável para os padrões e dogmas da sociedade em que ela estava inserida. Ela não se contenta com o fato de ninguém se propor a ajudar uma amenina de 12 anos acorrentada na casa de um homem de 60 que a havia sequestrado e ela tanto insiste que a menina, contra tudo e contra todos, acaba sendo solta.
Mas como consequência disso, ao invés de receber cartas de apoio, ela recebe muitas e muitas repudiando sua atitude, pois esse comportamento violava os princípios chineses, onde as mulheres servem enquanto reprodutoras e um homem pode trocar a sua sempre por uma bem mais nova, e então ela não se conforma e decide ajudar ainda mais meninas, mulheres, esposas, e todas aquelas que estariam vivendo em situações de estupro, violência psicológica, violência emocional, abandono e sofrimento de qualquer tipo.
Os relatos seguintes são ouvidos pela própria Xinran em uma coleção de entrevistas feitas ao longo da construção do livro. Essas histórias não são fáceis de ler, a escrita da autora é de extrema sensibilidade e riqueza de detalhes, embora seja muito difícil pra nós termos uma ideia do que essas mulheres passaram estando aqui no conforto do nosso lar, a leitura nos leva a viver as sensações e os aspectos mais íntimos dessa narrativa.
A partir daí a gente se depara com a outra problematização: as mulheres que sobreviviam às margens da lei e o questionamento interminável de quanto valia a vida da mulher chinesa na época em que o Partido Comunista tomou o poder. Mulheres que eram descartadas desde o nascimento, pois a vinda de um bebê do sexo feminino significava manchar a imagem da família e sua árvore genealógica. Ter um filho homem era visto como um sinal de que a mulher era a favor do Partido.
Como todas as histórias contadas tem alguma ligação, direta ou indireta, com a política da China no século XX, fiz uma pesquisa que quero compartilhar com vocês para contextualizar e servir como um texto de apoio às suas leituras.
O contexto político da época em que o material do livro foi colhido pela Xinran se passa na Revolução Cultural da China, isto é, um período governado por Mao Tsé-Tung, líder comunista e revolucionário chinês, que liderou o Partido Comunista de 1949 até sua morte em 1976. A Revolução Cultural passou a vigorar em 1966 e condenava drasticamente toda e qualquer relação com o ocidente ou com a União Soviética, cujo objetivo era neutralizar todas as críticas e possíveis oposições ao governo de Mao Tsé-Tung.
E quem mantinha alguma ligação familiar, profissional ou apenas tinha em casa um artigo ocidental, foi severamente perseguido e torturado, tratados como como espiões ou contrarrevolucionários. Esse ambiente hostil e violento permeia todas as vivências dessas mulheres chinesas que falam um pouco do seu sofrimento e das sequelas que ficaram desses traumas. Até mesmo a Xinran conta um pouco de sua trajetória e se vê tendo muito em comum com essas mulheres que tiveram sua infância afetada pela Revolução.
Em meio a essas memórias cheias de muito sentimento e verdade, encontramos momentos que nos causam uma empatia sem fim com os dizeres daquelas mulheres, que em nada se diferem de nós além do lugar onde habitam, e que tanto sofreram com estupros, abandono social e familiar, violência física, torturas e uma perda total de identidade e de noção de lar. Encontrei nesse livro muitas experiências que me fizeram ter ainda mais certeza de que é preciso conhecer a história e que essa história nos mostra que nunca as mulheres foram livres. Que nunca, até hoje, encontramos a real liberdade: a igualdade!
Que possamos ser juntas, pois unidas venceremos nossas dores e partilharemos os prazeres de sermos o que somos: mulheres!
Até a próxima!
Bezo
Mas como consequência disso, ao invés de receber cartas de apoio, ela recebe muitas e muitas repudiando sua atitude, pois esse comportamento violava os princípios chineses, onde as mulheres servem enquanto reprodutoras e um homem pode trocar a sua sempre por uma bem mais nova, e então ela não se conforma e decide ajudar ainda mais meninas, mulheres, esposas, e todas aquelas que estariam vivendo em situações de estupro, violência psicológica, violência emocional, abandono e sofrimento de qualquer tipo.
Os relatos seguintes são ouvidos pela própria Xinran em uma coleção de entrevistas feitas ao longo da construção do livro. Essas histórias não são fáceis de ler, a escrita da autora é de extrema sensibilidade e riqueza de detalhes, embora seja muito difícil pra nós termos uma ideia do que essas mulheres passaram estando aqui no conforto do nosso lar, a leitura nos leva a viver as sensações e os aspectos mais íntimos dessa narrativa.
A partir daí a gente se depara com a outra problematização: as mulheres que sobreviviam às margens da lei e o questionamento interminável de quanto valia a vida da mulher chinesa na época em que o Partido Comunista tomou o poder. Mulheres que eram descartadas desde o nascimento, pois a vinda de um bebê do sexo feminino significava manchar a imagem da família e sua árvore genealógica. Ter um filho homem era visto como um sinal de que a mulher era a favor do Partido.
Como todas as histórias contadas tem alguma ligação, direta ou indireta, com a política da China no século XX, fiz uma pesquisa que quero compartilhar com vocês para contextualizar e servir como um texto de apoio às suas leituras.

E quem mantinha alguma ligação familiar, profissional ou apenas tinha em casa um artigo ocidental, foi severamente perseguido e torturado, tratados como como espiões ou contrarrevolucionários. Esse ambiente hostil e violento permeia todas as vivências dessas mulheres chinesas que falam um pouco do seu sofrimento e das sequelas que ficaram desses traumas. Até mesmo a Xinran conta um pouco de sua trajetória e se vê tendo muito em comum com essas mulheres que tiveram sua infância afetada pela Revolução.
Em meio a essas memórias cheias de muito sentimento e verdade, encontramos momentos que nos causam uma empatia sem fim com os dizeres daquelas mulheres, que em nada se diferem de nós além do lugar onde habitam, e que tanto sofreram com estupros, abandono social e familiar, violência física, torturas e uma perda total de identidade e de noção de lar. Encontrei nesse livro muitas experiências que me fizeram ter ainda mais certeza de que é preciso conhecer a história e que essa história nos mostra que nunca as mulheres foram livres. Que nunca, até hoje, encontramos a real liberdade: a igualdade!
Que possamos ser juntas, pois unidas venceremos nossas dores e partilharemos os prazeres de sermos o que somos: mulheres!
Até a próxima!
Bezo
Comentários
Postar um comentário