Edificação | Onde está nosso grande primeiro amor?

No final do ano passado, meados de novembro, eu estava trabalhando na livraria e um grupo de meninos de cerca de 16 anos chegou no meu setor de atendimento. Eles queriam um livro e eu os ajudei a encontrar. A conversa foi boa, eu sou ótima na arte do converseiro, e um deles era especialmente simpático e cordial. Feito o atendimento, eles foram pro caixa e eu fui pro próximo cliente.
Passadas cerca de duas horas, eu mexendo numa prateleira, procurando um livro, me volta o cabeludinho simpático e me diz assim:

 - Escuta, eu tava por aí andando a toa, pensando na vida, e fiquei imaginando se você não me daria seu telefone. Você poderia me dar? - era nítida a ansiedade nos seus olhinhos de rapaz que não imagina como vai ser a reação da menina objeto de desejo.

Só que nesse caso ele não havia abordado uma menina, imagino até que nem cogitou a minha idade, ele estava abordando uma mulher que inclusive, naquele momento, estava casada. Tive o maior cuidado do mundo com minha resposta, pois calculei o tanto de coragem que ele não deve ter se esforçado pra reunir nesse intervalo entre nossos dois encontros. Disse a ele que me sentia extremamente honrada, que ele era um rapaz muito corajoso, mas eu teria de dizer que não havia essa possibilidade. Não quis falar minha idade pra ele, afinal isso poderia aumentar ainda mais seu constrangimento, então mostrei meu anular com a aliança do meu casamento.
Vi esse menino embranquecer e não saber onde colocar a vergonha que o dominava. Tratei de dar um abraço nele e com muito amor, disse que não se preocupasse e que voltasse pra me ver e conversar mais vezes. Fiquei mesmo foi orgulhosa de ver um menino com tamanha coragem de encarar uma paquera pra além dos aplicativos, aquela coragem maravilhosa de quem vem olhar nos olhos pra pedir um número de telefone. A coragem que quase ninguém tem mais. Foi incrível!
Ele voltou na livraria mais uma vez depois disso, estava com sua tia e conversamos tranquilamente, como se nada daquele constrangimento tivesse acontecido. Então hoje, depois já de alguns meses sem vê-lo, ele volta pra me pedir informações de um livro (que no final eu cheguei a conclusão que havia mesmo sido apenas um pretexto pra conversa). Nos cumprimentamos com um "hi-fi" e um abraço e perguntei como estava a vida, como estava os estudos, se ele já tinha uma paquera ou namorada... Esses papos que a gente tem quando quer se enturmar com alguém que a gente admira e quer conversar. Notei que ele percebeu a ausência do meu anel que fazia com que a paquera dele fosse impedida. Mas não houve pergunta.
Conversa vai, conversa vem, ele me disse que tinha namorado uma menina sim, mas que só durou uma semana. Não pude perder a chance de dizer a ele que ficasse tranquilo porque ainda tinha muito tempo pra descobrir o que era o amor. Foi nesse exato momento que o menino conseguiu me tirar as palavras e me fazer pensar profundamente sobre muito a meu respeito. Ele me disse:

 - Eu já sei o que é isso, você foi meu primeiro grande amor! - e a seriedade com que disse isso fez meu coração acelerar sem saber como reagir.

Minha gente, eu fiquei sem saber o que dizer e só consegui sorrir, absolutamente envergonhada, enquanto ele dizia que em breve voltaria pra gente poder conversar mais. Disse, animado, que me traria um pão de batatas que sua tia é especialista em fazer. Um menino desconcertando uma mulher que julgava já ter passado por quase tudo nessa vida. Doce engano..
Um papo de 15 minutos que me fez parar e lembrar como era ser adolescente e ter amores platônicos. Você lembra qual foi o seu primeiro grande amor? Pois eu parei pra pensar e me lembrei do primeiro e de todos os outros que vieram depois dele. Senti o tanto de amor e gratidão que ainda carrego por essas pessoas terem feito parte da minha vida naquele momento e terem me tratado com tanto carinho e respeito quando eu não fazia ideia do que estava fazendo.
Como era fantástico se apaixonar e desapaixonar com tamanha facilidade e tamanho sofrimento. Lembro de um desses grandes amores que era muito mais velho e eu pensava nele dia e noite, escrevia poemas, chorava, vigiava a janela pra o ver passar, cantava músicas de amor. Foram 2 anos de uma paixonite aguda que foi tratada por ele com muito cuidado e respeito. Hoje, com minha própria experiência, descobri que ele não pensava tanto em mim enquanto eu pensava nele dia e noite. Quantas coisas gostosas eu vivi nessa fase, quanto de mim eu aprendi enquanto crescia emocionalmente. Como é bom ser jovem e ter à flor da pele todas essas coisas que nos fazem ser intensos e extremamente sinceros conosco.

Onde está nosso primeiro grande amor e por que ele levou consigo aquela parte de nós apaixonada que nos faz cometer atos insensatos como pedir o telefone de uma estranha no shopping?
Eu quero um grande primeiro amor de novo, e você?


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