Poesia | 28/04/2008

Não te gosto assim em silêncio porque te sinto distante... Entre tua boca e a palavra mora talvez minha angústia como entre o dia e a noite vacila a longa dúvida do crepúsculo.

Não te gosto em silêncio quando há em teus olhos, pousados, dois estranhos pássaros noturnos e teus lábios emudecem como a fonte nos ásperos e intermináveis invernos.

Não te gosto em silêncio quando te envolves com as coisas que te cercam, como se fosses uma delas, quando estás como as águas paradas cuja beleza é apenas o reflexo das estrelas.

Por isso te provoco e te atiro perguntas como pedras quebrando a impassibilidade do lago, como pancadas no gongo que estremecem e vibram e te trazem a tona pra mim.

Não te gosto em silêncio porque parece que atrás de tua voz ainda se esconde alguém que tu próprio não conheces, alguém a ameaçar nosso sonho e que só tuas palavras poderão expulsar.

Não te gosto em silêncio porque preciso ainda de tua palavra para te descobrir, lanterna diante do meu passo, alvorada desenterrando na noite emaranhada o meu indeciso caminho. Porque preciso ainda que tua palavra chegue como um vento forte arrastando nuvens, limpando céus e horizontes, levando folhas mortas, te descobrindo ao sol.

Um dia te gostarei em silêncio... E então me recolherei em teu silêncio e procurarei a sombra, como o pássaro na hora da tarde e porque o sol estará em nós e nada turvará meu pensamento, pois entre tua boca e a palavra haverá apenas o meu terno beijo.

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